Depois dos encontros entre o Primeiro-Ministro e os partidos parece haver bases fortes de entendimento entre o PAICV, a UCID e o Governo em relação à situação da Guiné-Bissau e à aceitação da Guiné Equatorial no seio da CPLP. Posição que entretanto, não é tão clara em relação ao MpD que, segundo argumentou Jorge Santos, não pensa ser possível a retoma da situação antes do golpe de 12 de Abril. Já no que tange à Guiné Equatorial parece haver entendimento.
O MpD, a julgar pelas palavras do seu representante neste encontro com o Primeiro-Ministro, Jorge Santos, não corrobora exactamente daquela que é a posição do Governo até esta data em relação à crise na Guiné-Bissau a favor da retoma da normalidade constitucional, através da devolução do poder aos órgãos legitimamente eleitos e constituídos.
Jorge Santos deixa entender não ser a favor do regresso do Governo chefiado pelo PAIGC, órgão eleito com 67 das 100 cadeiras parlamentares, e do Presidente Interino, Raimundo Pereira. Segundo Santos, a retoma da situação antes do Golpe de 12 de Abril “é impossível”, tendo em conta “a complexidade” da situação e da divergência de interesses dos vários actores deste processo, pelo que é preciso ser-se “pragmático” e encontrar uma solução “intermédia” e que possa fazer convergir todos esses interesses. Tal solução, opina, teria de ser negociada no seio de um diálogo entre a Guiné-Bissau, a CEDEAO, a CPLP e o Sistema das Nações Unidas.
E, Cabo Verde, neste caso, o Governo, terá de ter um papel mais activo, considerando a ligação histórica e de amizade com a Guiné-Bissau, tanto no seio da CEDEAO e da CPLP, mas também assumindo o diálogo directo com os políticos e militares guineenses, no sentido de encontrar essa tão desejada convergência. Questionado se essa posição de dialogar com os golpistas não seria a legitimação do Golpe, Santos explicou que sendo o golpe uma realidade a questão agora é encontrar a melhor solução que possa amenizar o sofrimento dos guineenses e recolocar o país no caminho da estabilidade. Mas, “nós somos contra qualquer golpe de Estado em qualquer parte do mundo”, salienta.
No que tange à adesão da Guiné Equatorial Santos assume uma postura cautelosa, dizendo-se a favor da decisão que vier do encontro dos Chefes de Estado da CPLP e que terá de ter em conta o roteiro definido da Cimeira de Luanda no ano passado do qual sublinha entre as condições a alteração da Constituição daquele país para permitir eleições livres e o reconhecimento do papel da oposição, lembrando que esse é um país de “Partido Único”. O ensino da língua portuguesa neste que é o único país de África que fala o espanhol é outra condição lembrada por Santos para a aceitação de mais um membro na família CPLP. Uma posição que, entretanto não foge do que defende o Governo até esta.
Já a UCID e o PAICV afinam pelo mesmo diapasão que o Governo em ambas as matérias. Armindo Maurício, Secretário-Geral do PAICV defendeu uma posição firme da comunidade internacional em relação à crise na Guiné-Bissau, afirmando que o Partido, à semelhança da posição que vem sendo defendida pelo Governo, “não apoia um Governo saído do Golpe de Estado”. Sobre a Guiné Equatorial o PAICV entende que é do interesse de Cabo Verde que aquele país, “com todo o potencial que têm” passe a fazer parte da família da CPLP.
Por sua vez, António Monteiro, líder da UCID defendeu, após o encontro com o Primeiro-Ministro, também uma posição firme em relação à crise na Guiné-Bissau, afirmando que a solução apontada pela CEDEAO não irá resolver o problema de fundo. Trata-se, esta proposta, de uma medida “paliativa” e que não merece, portanto, aprovação da UCID. “Somos totalmente contra”, afirma.
A posição do Governo, após esses encontros será conhecida logo mais sendo que o Primeiro-Ministro deverá abordar essas matérias na conferência de Imprensa do Conselho de Ministros extraordinário desta quarta-feira.