Ao longo dos anos, Cabo Verde tem procurado, junto dos seus parceiros históricos, como são o caso de Portugal e do Brasil, ofertas formativas com enfoque, sobretudo, nas licenciaturas, por forma a responder às demandas e necessidades imediatas de mão-de-obra especializada, num contexto caracterizado, essencialmente, pela carência de quadros qualificados, com competências e experiências capazes de criar as bases e lançar as ancoras para o desenvolvimento sustentável do país.
Graças ao investimento feito na formação superior, reconhece-se que Cabo Verde vem conhecendo, desde a independência a esta parte, ganhos consideráveis em todos os sectores da vida social e económica. Contudo, os novos desafios decorrentes da sua graduação à categoria de país de rendimento médio impõem a este arquipélago a necessidade de encontrar novas respostas em termos de capacitação dos recursos humanos, capazes de alavancar uma pequena economia insular, agora com ambições de alcançar a sua inserção competitiva na economia mundial.
Neste contexto, a aposta no ensino superior revaloriza-se enquanto instrumento estratégico para impulsionar o desenvolvimento sustentável de Cabo Verde, com foco, desta feita, na formação avançada, investigação científica e na inovação, assente numa maior diversificação dos parceiros. É neste quadro que, sem descurar as antigas relações de cooperação que continuam sendo centrais, se tem buscado novas parcerias para a formação superior dos quadros caboverdianos.
O Governo de Cabo Verde, através do Ministério do Ensino Superior, Ciência e Inovação e em estreita ligação com o Ministério das Relações Exteriores, tem engendrado novas parcerias com países como a China, Índia e Austrália, no domínio da formação avançada (mestrado e doutoramento) e nos cursos de treinamento de especialistas, por forma a criar capacidade endógena de geração de conhecimento. Capacidade, essa fundamental para a consolidação e robustez do sistema de ensino superior cabo-verdiano, e indispensável para o nível de eficiência, eficácia e qualidade que se quer imprimir a este sistema.
De salientar que a Índia, a China e a Austrália são países que, na última década, têm dado um grande salto em matéria de ensino superior, ciência, desenvolvimento tecnológico e inovação, tornando-se já nos novos «gigantes» do sector. Nos próximos quinze anos, a Índia quer ganhar o estatuto de “plataforma global de conhecimento”. Segundo R. A Mashelkar, director do Conselho Científico e de Investigação Industrial da Índia (CSIR), em 2020, o seu país será o centro nº.1 de produção de conhecimento do mundo. A Índia apresenta neste momento, um «stock» de capital humano de 3 milhões de cientistas e tecnólogos e a mais elevada “produtividade” científica do Planeta (medida em artigos científicos e citações anuais em função do PIB per capita).
A China, por seu turno, pretende ser, também, o líder mundial em Ciência e Tecnologia, nos próximos 45 anos. Neste quadro, projecta extrair o máximo proveito dos recursos globais destinados à inovação, participar em colaborações e concursos multilaterais e globais, melhorar a sua capacidade nos campos de inovação tecnológica. Deste modo, espera poder incrementar a sua capacidade de assumir, integrar e inovar a partir de tecnologias importadas.
No caso da Austrália, é também notório o peso que o país vem tendo a nível da produção científica mundial, ocupando a 12ª posição, no ranking dos países com maior número de artigos (cerca de 38.599 artigos) publicados em 2009, de acordo com os dados da National Science Indicators (NSI) da Thomson Routers Scientif. Note-se que esta ilha continente desenvolveu excelência científica e tecnológica em domínios altamente relevantes para Cabo Verde como são a agricultura feita em contexto de aridez, a pesca, a gestão costeira e as energias renováveis.
De frisar que esses três países têm colocado à disposição de Cabo Verde, bolsas de estudo, a nível de pós-graduação, nas mais diversas aéreas do conhecimento e do saber, áreas estratégicas para o desenvolvimento de Cabo Verde, visando, principalmente, desenvolver nos jovens cabo-verdianos, capacidades, competências técnicas e know-how, segundo os mais altos padrões de referência em matéria de qualidade. Trata-se, na verdade, de novos horizontes abertos ao desenvolvimento do capital humano de Cabo Verde.