O ex-ministro das Relações Exteriores de Portugal, esteve em Cabo Verde no passado fim-de-semana para participar de uma palestra sobre a crise na Zona Euro e as possíveis repercussões no arquipélago. A partir da sua visão, corroborou da estratégia do Governo plasmado na “Agenda de Transformação”, defendida pelo Executivo de José Maria Neves e da política externa do Palácio das Comunidades, como forma de se fazer face à crise e criar novas oportunidades para que o país continue a crescer e a desenvolver.
A crise na zona Euro é inegável e é uma realidade preocupante para o mundo, segundo Luís Amado que salienta que os políticos, todos os Estados, os governos, os partidos políticos “têm de estar preparados”, mormente “uma economia com a fragilidade, abertura e dependência como a cabo-verdiana” que afirma, “é uma fonte de preocupação”.
Amado não hesita em afirmar que “o que se está a passar na Europa tem influência em todo o mundo, em todo o sistema financeiro. A instabilidade do sistema financeiro é hoje uma preocupação muito grande para todos os agentes económicos e para todos os Estados, sem excepção”. Amado falava numa palestra organizada pelo Gabinete do Primeiro-Ministro, sobre “O Futuro da Zona Euro: Implicações Estratégicas para a África Ocidental e para Cabo Verde”.
Assim, para fazer face à crise, Cabo Verde deve expandir as suas parcerias ao nível diplomático e económico, aponta. Afirma que o país deve integrar-se “rapidamente” no “sistema atlântico”, estabelecendo uma ligação mais forte entre os atlânticos Norte e Sul, com a Europa, os Estados Unidos, a América Latina (o Brasil em particular, que considera a futura grande potência do atlântico, dada a sua trajectória e as suas potencialidades) e, claro está, uma integração mais competitiva no continente africano.
Cabo Verde deverá assim, tirar partido da sua privilegiada localização geoestratégica e reforçar o seu papel de ponte entre os continentes europeu, africano e americano. E esta crise que, diz, está a criar uma nova ordem pós-ocidental, terá como consequência o rápido deslocamento das principais actividades económicas para a Ásia e Pacífico e, Cabo Verde poderá tirar partido disso, estabelecendo-se como essa ponte.
PM: Visão de Amado vai de encontro à visão do Governo
Sobre o que ouviu, o Primeiro-Ministro, José Maria Neves confessou-se preocupado, tendo em atenção “a grande turbulência”, “as grandes incertezas” e “riscos” porque passa o mundo. “As coisas mudam a uma velocidade extraordinária, todos os minutos e temos de estar conscientes de que a nível do país temos de ter um pensamento estratégico muito inteligente e construir consensos para fazer face à situação com muita responsabilidade”, reflectindo que é preciso um entendimento em larga escala que englobe, não só os partidos políticos e o Governo, mas toda a sociedade civil, “para restabelecermos o nosso pacto de construção de um Cabo Verde moderno e desenvolvido”.
A visão de Luís Amado, observa o Primeiro-Ministro, “é um pouco na linha da estratégia de transformação que nós definimos, transformar Cabo Verde num centro internacional de serviços, um país ponte entre os continentes, valorizando a localização geoestratégica de Cabo Verde e transformando-a numa fonte de competitividade para a economia cabo-verdiana”.
É nesta linha que o Governo tem trabalhado, afirma, sublinhando os esforços para a implementação da região da Macaronésia, englobando as ilhas Canárias, Açores e Madeira, através da criação da Cimeira da Macaronésia, uma proposta deste Governo. A realização da Cimeira Brasil-CEDEAO que ocorreu no Sal em 2012 e cuja iniciativa também partiu deste Executivo e, que mais não é do que um esforço de aproximação e de reforço da cooperação com estes e outros países tais como a China, a índia, os Estados Unidos e o Japão entre outros.
Ouça, aqui, a intervenção de Luís Amado contendo estas e outras considerações importantes, nomeadamente o perigo do colapso do Euro e a sua repercussão em Cabo Verde tendo em conta as relações supra-citadas e o acordo cambial com Portugal e a indexação do Escudo ao Euro, o perigo do agravamento da instabilidade no Médio Oriente e o perigo de um conflito à escala mundial.