O homem que fez o funaná descer do campo à cidade, Carlos Alberto Silva Martins (Katchás) deve ser condecorado, a título póstumo, com a Primeira Classe da Ordem do Dragoeiro, título máximo atribuído àqueles que em Cabo Verde e na diáspora se destacaram no mundo da cultura.
Este é o desejo que o ministro Antero Veiga manifestou durante a inauguração, neste fim-de-semana, de uma nova praça na cidade de Pedra Badejo, no concelho de Santa Cruz, interior de Santiago. Esta infra-estrutura contou com o co-financiamento do Ministério do Ambiente, Habitação e Ordenamento do Território.
Para ver concretizado o desejo, Antero Veiga desafiou o presidente da câmara municipal de Santa Cruz, Orlando Sanches, a formular um dossiê ao Presidente da República, Jorge Carlos Fonseca, no sentido de este condecorar o pai do funaná com a mais alta distinção atribuída aos homens e mulheres da cultura.
No entender do ministro do Ambiente, Habitação e Ordenamento do Território, se em Cabo Verde existe alguém merecedor do referido título, esta pessoa é o Carlos Alberto Martins. Proferidas estas palavras, Antero Veiga foi ovacionado pela multidão que assistia ao acto de inauguração da praça situada no coração de Pedra Badejo e que, doravante, passa a acolher a estátua do homem que revolucionou o funaná.
Katchás é unanimemente considerado o músico que realizou a maior revolução no campo musical em Cabo Verde, fazendo do funaná, juntamente com a morna e a coladeira, um dos géneros mais importantes da música cabo-verdiana.
Até 1975 o funaná era relegado à clandestinidade pelo regime colonial e executado simplesmente com a gaita e o ferrinho, uma barra metálica.
Katchás, na intenção de levar o funaná para fora do ambiente rural para que fosse conhecido também nas cidades, introduz instrumentos electrónicos e amplificadores e em 1978 dá vida ao grupo musical Bulimundo. Como ele próprio dissera muitas vezes, o funaná em 1980 não era ainda considerado música.
Enriquecido de várias influências, rapidamente o sucesso do grupo e do funaná atinge as comunidades cabo-verdianas no exterior. O funaná começa a ser identificado como um símbolo de liberdade e um elemento cultural através do qual se quer afirmar o senso de identidade cabo-verdiana, reprimida por séculos.
Carlos Alberto Silva Martins nasceu em 8 de Agosto de 1952 em Renque Purga, perto de Pedra Badejo, um vilarejo de pescadores na ilha de Santiago. Após o curso médio em Praia, parte para Portugal para estudar engenharia agrária na universidade de Santarém.
No final de Março de 1988, Katchás está entre os organizadores na Praia do Primeiro Encontro da Música Caboverdiana. É a sua última participação em uma manifestação pública. Na noite do encerramento do referido evento, em 29 de Março, aos 36 anos, morre em consequência de um acidente de viação.
Discografia:
Batuco – 1980
Bulimundo – 1981
Djan Brancu Dja – 1981
Ó mundu ka bu kaba – 1982
Éxodo – 1983
Compasso pilon – 1984