O Governador do Banco de Cabo Verde, Carlos Burgo, afirmou ontem, 03 de Novembro, à imprensa, a sua confiança de que a crise que afecta, sobretudo, a zona Euro não represente de momento “ tão sérias ameaças” ao crescimento da economia cabo-verdiana devendo, porém, significar um crescimento mais moderado como consequência. Burgo, assim como o Grupo de Reflexão sobre a crise na zona Euro reunida há dois dias com o Primeiro – Ministro, acreditam que deverão ser tomadas algumas medidas que garantam a continuidade desse crescimento económico. Medidas essas que têm a ver com a melhoria da capacidade competitiva do país, ambos elegendo o turismo como sector chave. O referido grupo apresentou ontem, em audiência com o Chefe do Executivo, as recomendações saídas do encontro.
Em conversa com a comunicação social, após audiência com o Primeiro-Ministro, Carlos Burgo reiterou a sua confiança na capacidade cabo-verdiana de fazer face, com sucesso, à crise que afecta a zona Euro e que certamente terão, como já se está a fazer sentir em alguns sectores, os seus efeitos no arquipélago. O governador do BCV aponta como um dos impactos da crise no país o investimento directo estrangeiro que tende a diminuir devido às acrescidas dificuldades de financiamento.
O Governador do Banco de Cabo Verde e ex-ministro das Finanças, mostra-se confiante de que Cabo Verde poderá suster o crescimento da sua economia, ainda que a “um ritmo mais moderado”. “Considerando o contexto internacional actual, temos vindo a crescer e não vemos ameaças tão sérias que possam pôr em causa a continuidade do crescimento, eventualmente, a um ritmo mais moderado”, considera.
Contudo, para isso, Cabo Verde deverá prosseguir as reformas “estruturais”, necessárias na função pública que permitirão aumentar a competitividade do país.
Carlos Burgo avança que o crescimento da economia nacional depende, neste momento, “sobretudo da venda de serviços ligados ao turismo”, cuja demanda, acredita, deverá continuar a aumentar.
Burgo recomenda ainda que sejam tomadas algumas medidas para “contra-balançar eventuais fraquezas da demanda externa do país”, e que têm a ver com a melhoria dos serviços ligados ao turismo, “vendendo mais aos turistas”, reafirmando o seu optimismo em relação à expansão do sector turístico.
Fórum sobre o Turismo para enfrentar crise
Também o grupo de especialistas que compõem o núcleo de reflexão sobre a crise na zona Euro, elege o turismo como sector chave para fazer face à crise na zona Euro e os seus impactos em Cabo Verde.
Alguns elementos do grupo, entre eles o economista Paulino Dias, apresentaram esta manhã ao Chefe do Governo as recomendações saídas do encontro promovido por José Maria Neves, no dia 02 de Novembro, no Palácio da Várzea. O grupo recomenda a realização de um Debate Nacional sobre o turismo, para recolher subsídios com vista na melhoria do sector. Saber que tipo de turismo para Cabo Verde, deverá ser um das questões principais a responder nesse certame.
A hora do sector privado
Sobre a situação económica actual, à luz da crise na zona Euro, o porta-voz, Paulino Dias mostra-se cauteloso e afirma que “Cabo Verde deve preparar-se para o pior, esperando, contudo, que aconteça o melhor”.
O grupo coloca a tónica nas medidas que deverão ser tomadas para – assim como defendeu Burgo e, também, o Presidente da Associação dos Jovens Empresários, Rui Levy – aumentar a competitividade do país.
Nisto, o economista entende que é chegada a hora do sector privado assumir maior protagonismo “enquanto motor do crescimento”, sendo necessário que, para isso, o Governo assuma uma “política clara” para a promoção do empreendedorismo nacional.
“Entendemos que o sector privado em Cabo Verde já está mais evoluído, vem se consolidando e está a inovar-se”, defende Paulino Dias. Ainda no que tange à competitividade do país, o grupo realça a necessidade da melhoria do sistema energético e de água do país, bem como toda a logística de transportes marítimos inter-ilhas e, sobretudo, da ligação com os restantes países da CEDEAO, para maior acesso ao mercado da sub-região.
Também a qualificação da mão-de-obra nacional é destacada como um imperativo para fazer face aos novos desafios desses novos tempos, assim como continuidade das reformas no sector da administração pública, com vista a melhorar a comunicação com o sector privado.