O Bispo de Cabo Verde dissertou durante pelo menos duas horas, sobre a Doutrina Social da Igreja, passando pela contextualização histórica dessa doutrina e a contribuição da Igreja na formação da cabo-verdianidade e também sobre os 35 anos de país livre.
Em sua consideração, o Bispo mostrou que, deveras os princípios da Igreja continuam bem actuais e diz da sua importância na construção da identidade cabo-verdiana, homens e mulheres de paz e brandos costumes, não obstante um passado histórico de violência marcado pela escravatura.
Valores e princípios como o respeito pelo próximo, pelas diferenças, a moralidade e a honestidade, o esforço pelo bem comum e a solidariedade, valores que como defende o Primeiro-Ministro, José Maria Neves, "são referência para os políticos cabo-verdianos".
Dom Arlindo não tem dúvidas em afirmar que Cabo Verde percorreu um longo caminho e com sucesso considerável, muito por causa da forte importância dada à educação que, diz, deve continuar a ser prioridade para que se possa desenhar um futuro cada vez mais promissor para o país.
Para o representante máximo da Igreja Católica em Cabo Verde, a aposta na qualidade do ensino deve ser uma constante, e nota todavia, citando o Papa Dom Bento XVI, uma "excessiva fragmentação do saber". Quer com isto dizer, e chama a atenção dos governantes, de que enquanto é necessário que se formem especialistas em áreas vitais na sociedade moderna, torna-se igualmente necessário a capacitação de pessoas que tenham um olhar mais abrangente sobre todos os aspectos da vida e do saber quotidiano.
"É preciso formarmos cidadãos conscientes e ousados", observa. D. Arlindo lembra ainda a contribuição histórica da Igreja também na área do saber, sendo que desde os primeiros tempos do descobrimento do país, ela foi das primeiras e mais importantes escolas com os seus seminários e padres professores. Trata-se de uma ideia defendida na Doutrina social da Igreja que, aponta, tem a pessoa humana como fundamento.
O Bispo afirma ainda a disponibilidade da Igreja em continuar a dar o seu contributo nessa matéria, deixando a ideia de que no futuro poderá apostar "em escolas de qualidade como acontece em outras paragens, inclusive no Ensino Superior".
Contudo, a sua leitura sobre os 35 anos da Independência é altamente positiva, sendo que o país evoluiu muito em quase todos os sentidos como, não só a educação, mas também os direitos humanos e acesso a bens comuns.
A ideia da família como núcleo da sociedade foi também um tema de debate, assim como o questionamento se a Doutrina da Igreja conseguiu ou não triunfar em Cabo Verde. Sobre essa última questão, responde que sim, "em parte", já que "o ideal é inatingível".
O homem, acrescenta, "caminha permanentemente ao encontro do ideal para se aproximar dele, não o conseguindo porque é um ser em construção permanente. A Igreja, apesar de não ter intervenção directa nas questões do dia-a-dia da sociedade apresenta, "na ausência de soluções técnicas, princípios orientadores para aqueles que lidam com esta situação".
Sobre PM encontrar-se com "thugs"
Num dos muitos momentos interessantes da conferência, um jornalista perguntou o que D. Arlindo achava do Primeiro-Ministro encontrar-se com os ditos "thugs" e o Bispo, com frontalidade e descontracção respondeu que se, enquanto Bispo, não tem nada a ver com as questões da Governação e que o Primeiro-Ministro é livre para encontrar-se com quem quiser. Mas enquanto cidadão vê com bons olhos essa iniciativa.
Para o Bispo, é bom que José Maria Neves queira dialogar com as pessoas e conhecer de perto os problemas para poder lidar melhor com elas e encontrar as melhores soluções.