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PM quer inclusão de “Rota dos Escravos” nas comemorações do 40º Aniversário da Independência

O Primeiro-Ministro, José Maria Neves, sugeriu que o projecto “Rota dos Escravos”, e que este ano comemora o 20º aniversário da sua existência, seja incorporado nas comemorações dos 40 anos da Independência, isso como forma de impulsionar a divulgação do projecto para um maior conhecimento da nossa história por parte dos cabo-verdianos e para a construção do futuro.

É nessa linha que o Chefe do Governo saudou a iniciativa do Ministério do ensino Superior em parceria com o Ministério da Cultura e a UNESCO de celebrar os 20 anos do importante projecto “Rota do Escravo” (ver texto: PM preside cerimónia dos 20 anos do Projecto “A Rota do Escravo”), uma iniciativa de vários países africanos e o Haiti e endossada pelo Sistema das Nações Unidas, com o intuito de preservar a memória histórica referente ao comércio triangular de escravos que remonta ao século XV.

Neves defende que os cabo-verdianos precisam conhecer a sua “rica” história do qual faz parte o comércio triangular de escravos entre a África, a Europa e as Américas e que tinha em Cabo Verde, sobretudo a Cidade Velha, um importante centro. Daí que o Primeiro-Ministro lançou o desafio de ser alargado esta celebração dos 20 anos da instituição do projecto “Rota dos Escravos” e inserido no vasto programa que irá compor as comemorações do 40º Aniversário da Independência de Cabo Verde.

“Precisamos conhecer a rota interna dos escravos, como é que conseguiram resistir, onde é que foram os colombos cabo-verdianos, tudo isso para conhecermos a riqueza da nossa história passada e construirmos o nosso futuro”, realçou José Maria Neves aos jornalistas antecipando o que seria a sua intervenção.

O Primeiro-Ministro recorda ainda que génese das nações crioulas (sendo Cabo Verde a primeira Nação crioula do mundo) nasce nessas Ilhas que se tornam desde o seu povoamento num verdadeiro “melting pot” de culturas e civilizações.

Cabo Verde deu um importante contributo para a construção de um novo mundo e o surgimento e desenvolvimento de novos povos, línguas e culturas assente na miscigenação de vários povos e é preciso resgatar tudo isso e o valioso contributo de Cabo Verde, como também sublinhou outro interveniente nesta cerimónia, o Ministro do ensino Superior, Ciência e Inovação, António Correia e Silva.

Na qualidade de Presidente da Comissão Nacional de Cabo Verde para a UNESCO, Correia e Silva salientou o grande objectivo deste projecto que é de, sobretudo, realçar este contributo positivo que os escravos deram ao mundo, por exemplo, com a introdução de novas espécies vegetais, novas técnicas de cultivo e, inclusivamente no desenvolvimento das ciências, na economia, etc.

O Ministro da Cultura Mário Lúcio Sousa também salientou a necessidade de Cabo Verde reclamar a sua importância histórica nesse contexto da “Rota do Escravo”, afirmando que tal iniciativa já deveria ter sido tomada de há muito.

A escravatura, lembra a representante do Sistema das Nações Unidas em Cabo Verde, Ulrika Golinski, é um episódio que envergonha a humanidade pela violência e brutalidade e que vitimou mais de 10 milhões de pessoas e que como tal “não pode ser esquecida” para que “não se repita jamais” na história da humanidade.

Por sua vez, o Presidente da Associação dos Municípios, José de Pina, lembra que, de acordo com os historiadores, pelo menos 90 mil escravos passaram ou partiram de Cabo Verde obrigados a trabalhar nos campos dos senhores europeus e americanos, o que diz muito do papel central que Cabo Verde e, mais concretamente a Cidade Velha teve nessa altura.

Um legado que todos concordam, apesar de “má memória” pode ser também convertida em algo de muito positivo e que venha a contribuir para a geração de riquezas para o país, como exaltou o edil.

As comemorações dos 20 anos da “Rota do Escravo” deverão prolongar-se até 15 de Setembro, segundo os organizadores com diversas acções entre os quais uma exposição com dezenas de painéis contendo informações históricas e sito no Hall de entrada da Assembleia Nacional, como lançamento e divulgação de livros, filmes, documentários etc.