Foi um momento memorável, o da entrega do diploma, que não poderia ter decorrido em melhor local do que o histórico Convento de São Francisco e que esteve inserido também nas actividades do Simpósio Internacional "Cidade Velha e a Cultura Afro-Mundo: o futuro e o passado II", organizado pela Universidade de Cabo Verde.
Com um discurso, que arrancou vivas palmas da platéia, o Ministro da Cultura brasileiro frisou a justeza do título àquela que foi a primeira urbe portuguesa construída em África e que iniciou a saga das explorações portuguesas que viriam a mudar o mundo.
"É uma honra entregar este diploma porque o título é merecido e constitui justo motivo de orgulho para o Povo cabo-verdiano", afirmou. Honra que lhe coube numa altura em que o Brasil preside o Comité do Património Mundial da UNESCO.
E, enquanto Presidente do Comité, Juca Ferreira afirma que "o título conferido à Cidade Velha vem ao encontro de todo um esforço que temos levado adiante no sentido de actualizar a Convenção do Património Mundial, adaptando-a à realidade dos países em desenvolvimento e libertando-a do viés eurocêntrico que por tanto tempo marcou a sua implementação".
O Ministro brasileiro realça ainda os laços históricos qe unem os povos brasileiro e cabo-verdiano, reafirmando o firme compromisso do Brasil em se aproximar cada vez mais da África e de Cabo Verde em particular. Aliás, nesse âmbito, o Presidente Luís Inácio "Lula"da Silva, deslocar-se a Cabo Verde, a 2 de Julho próximo, para praticipar da Cimeira Brasil-CEDEAO, patrocinada pelo governo de José Maria Neves.
O Primeiro-Ministro de Cabo Verde, por seu lado, pegou onde Ferreira deixou, para ressalvar os muitos pontos comuns de duas histórias que se cruzam desde a rota dos escravos aos tempos de hoje. Desde a música à literatura, para além de outras manifestações culturais, à forma de estar e sentir, o cabo-verdiano e o brasileiro são muito parecidos, segundo Neves.
Cidade Velha é também o berço da língua crioula que não foi esquecida por José Maria Neves que apela à sua preservação, ele que muito defendeu e defende a sua oficialização em paridade com o português. "Nós somos dos poucos povos do mundo que criou a sua língua, a língua cabo-verdiana", enfatiza, a nossa grande riqueza.
"Costuma-se dizer que Cabo Verde é um Brasilinho. Temos de mudar de paradigma, porque o Brasil é que é um grande Cabo Verde, uma extensão de Cabo Verde", diz em tom descontraído, para lembrar que a descoberta de Cabo Verde pelos porugueses é anterior à do Brasil e que os escravos que ali foram e que ajudaram a moldar a cultura afo-brasileira passaram todos pela Cidade Velha.
José Maria Neves sublinha, igualmente, o esforço do Governo Lula em aproximar-se da África e reforça a disponibilidade de Cabo Verde em continuar a ser a ponte de ligaçao entre o Brasil e a África e a ponte entre os continentes americanos, africano e europeu.
Ainda referindo-se à história, José Maria Neves destacou que a Cidade Velha "é património do Mundo" e que o Governo e a Câmara Municipal têm a obrigação de se entenderem sobre as questões que dizem respeito à gestão e à preservação do património.
Leia na íntegra: discurso_ministro_br_cultura; discurso_pm_cidade_velha