Eram pouco mais das 20:30, hora local, quando, pela primeira vez, a Secretária de Estado Norte-americana pisou o Aeroporto Internacional da ilha do Sal. Cabo Verde já tinha preparado, como não podia deixar de ser, esta visita considerada histórica, pelo facto de ser a primeira vez que um alto responsável da política diplomática da Casa Branca pisa as terras crioulas.
Recebida pelo Ministro dos Negócios Estrangeiros, Cooperação e Comunidades, José Brito, acompanhado por diplomatas americanos e cabo-verdianos, para, posteriormente, encontrar-se com o Chefe do Governo Cabo-verdiano, José Maria Neves, Hillary Clinton não poupou elogios a Cabo Verde: "poucos países ilustram o potencial da África, melhor do que Cabo Verde. Nenhum outro país africano conseguiu evoluir em todos os aspectos do desenvolvimento como Cabo Verde, da boa Governação, à transparência, responsabilidade e responsabilização dos poderes públicos, às leis e uma democracia que tem conseguido tirar da pobreza o seu povo, elevando essas ilhas à categoria de País de Rendimento Médio".
"Um caso de sucesso inigualável em África"
Mas os elogios não ficaram por aqui. Clinton, encantada com Cabo Verde, afirmou que o nosso país é "um caso de sucesso inigualável em África". Congratulou-se com os esforços do país no sentido de cumprir os objectivos do milénio, promover a participação feminina na vida política e conseguir a graduação para o grupo de países de rendimento médio.
Hillary Clinton declarou "o orgulho" dos Estados Unidos em manter e fortalecer os laços de amizade com Cabo Verde, deixando a promessa de que a actual administração norte-americana tudo fará para construir uma relação cada vez mais forte e estreita.
Os esforços feitos pelo Governo cabo-verdiano não passam despercebidos aos olhos da administração norte-americana. Clinton realçou a reunião organizada em Cabo Verde, a nível da CEDEAO, em Outubro último, que serviu para discutir soluções no combate ao narcotráfico. A importante contribuição dessas ilhas atlânticas e africanas para a paz e para a estabilidade na região ocidental africana, nomeadamente no caso da Guiné- Bissau, é outro ponto a favor de Cabo Verde.
"É possível a boa governação em África. Olhem para Cabo Verde!"
Clinton teceu, ainda, os mais rasgados elogios às autoridades cabo-verdianas: "modelo de democracia e progresso económico". "O Presidente Obama e eu dizemos: sim, é possível a boa governação em África. Olhem para Cabo Verde".
Afirmou que em todos os países por onde passou havia aspectos positivos e outros negativos. "Aqui, em Cabo Verde, a lista dos positivos é maior do que a dos negativos. O que aqui ouvi é música para os meus ouvidos", afirmou a Secretária de Estado, manifestando a intenção de voltar, dessa vez mais em jeito de passeio, com o marido, o antigo Presidente Bill Clinton.
O desenvolvimento do turismo, do comércio e da indústria dos transportes foram alguns dos aspectos aos quais a visitante deu atenção, durante a sua estada no arquipélago.
Cabo Verde pode exportar produtos para EUA
A cooperação na área das energias renováveis é destacada pela Secretária de Estado norte-americana que afirma a vontade do governo que representa em ajudar Cabo Verde a conseguir os objectivos traçados de elevar a produção de energias limpas em 25% até 2012 e em 50% até 2020, sendo que esta é também uma grande preocupação da administração Obama.
Outro dos principais assuntos abordados, durante a conferência de imprensa conjunta, prende-se com a possibilidade de o governo de Washington abrir a exportação de produtos cabo-verdianos para aquele país, livre de impostos. Este é um cenário que está equacionado no projecto AGOA – oportunidade de acesso dos produtos africanos ao mercado americano – e que Clinton tem discutido com os países africanos por onde passou, inclusive Cabo Verde.
Os projectos para a agricultura, o Programa Millenium Challenge Account, a segurança e a emancipação feminina foram alguns dos temas abordados durante o encontro entre José Maria Neves e Hillary Clinton.
"Este é um país onde a mudança está a acontecer"
"Este é um país onde a mudança está a acontecer", manifestou o Primeiro-Ministro, José Maria Neves. "Estamos a fazer progresso e essa é a história que gostaríamos que a Secretária de Estado levasse de volta para os EUA e que fosse objecto de reportagem pela imprensa ", sublinha.
Cabo Verde está a construir uma economia em crescimento sustentável de maneira sustentável, com uma média de 6 por cento, disse Neves, reforçando ainda que o executivo cabo-verdiano está a cumprir 4 dos 8 objectivos do milénio para o desenvolvimento e a trabalhar para cumprir os demais propósitos no horizonte 2015.
O PM considerou que a cooperação para o desenvolvimento entre os Estados Unidos da América (USA) e Cabo Verde teve resultados concretos desde a Independência, e hoje, com o Millenium Challenge Account (MCA) "continuamos essa experiência em novos moldes".
Referiu que com o primeiro compacto o Governo construiu não só infra-estruturas, mas também apoiou a modernização da agricultura, inovou e modernizou a gestão administrativa e financeira da coisa pública em Cabo Verde. Para o Primeiro Ministro, a experiência do MCA em Cabo Verde é um exemplo de como o MCA pode funcionar "e bem" em outros países.
José Maria Neves realçou que as relações entre Cabo Verde e os USA são uma história de amizade, confiança recíproca, e, sobretudo, de parceria em domínios de interesse comum.
O Périplo africano
A 05 de Agosto último, a Secretária de Estado Norte-americana iniciava uma visita histórica aos sete países do continente africano. O périplo começou no Quénia e incluiu a África do Sul, Angola, a República Democrática do Congo e a Nigéria, antes de ter chegado à Libéria. Um périplo que se insere no âmbito de uma visita consagrada às relações bilaterais e regionais. A visita começou com a presença de Hillary Clinton no 8º Fórum de Cooperação Comercial e Económica EUA- África Subsariana (o chamado Fórum AGOA), na cidade de Nairobi, a capital queniana. É a primeira que qualquer Secretário de Estado norte-americano efectua à África.
Chegada a Cabo Verde a 13 de Agosto para permanecer até o dia seguinte, Hillary Clinton encontrou-se com várias personalidades da vida diplomática norte-americanas e cabo-verdianas. Em conferência de imprensa conjunta na ilha do Sal, em que estiveram presentes jornalistas estrangeiros e nacionais e, a propósito do périplo efectuado ao continente africano, Hillary Clinton defendeu "um melhor comportamento dos países da África Ocidental, nomeadamente da Guiné-Bissau, contra o flagelo dos cartéis" e recordou que o FBI colabora com a polícia de Cabo Verde na luta contra o crime e em questões de segurança marítima.
O Primeiro-Ministro, José Maria Neves reforçou a ideia e sublinhou que "nós representamos uma África nova e emergente. Uma África optimista, uma África positiva. Aqui as instituições funcionam. Temos uma democracia pujante, somos um país que promove o Estado de Direito. Temos debates aprofundados e sérios, a imprensa é livre. Somos considerados dos países mais bem governados em África. Temos boa governação, há liberdade, há uma sociedade civil mais forte, há cidadania".
Neves realçou, ainda, os esforços do seu Executivo para que Cabo Verde continue a ser um exemplo de boa governação e de desenvolvimento em África, um país útil e que contribua para a estabilidade na região da costa ocidental africana.
O chefe do Governo considerou que Cabo Verde é um país de boa governação e, portanto, preocupado com a segurança a todos os níveis. "Estamos empenhados em fazer da nossa região uma zona de estabilidade, por isso saudamos a cooperação que temos vindo a desenvolver com os EUA nesse domínio, principalmente na luta contra os tráficos ilícitos, a criminalidade organizada, assim como na gestão dos conflitos na região.
Cabo Verde quer continuar a ser um país útil e um parceiro dos EUA para que esta região seja toda ela de paz, de estabilidade, de boa governação e de cooperação para o desenvolvimento, frisa o PM, durante a conferencia de imprensa realizada no Sal.
Cabo Verde e os EUA podem assinar um acordo de fiscalização marítima
Apesar de os Estados Unidos terem vindo a prestar apoio a Cabo Verde no domínio da luta contra os tráficos ilícitos na região africana, os dois países podem assinar um acordo definitivo de fiscalização marítima conjunta. Esta aposta é fundamental para Cabo Verde, já que o país não dispõe de meios suficientes para controlar toda a zona económica exclusiva.
Trata-se de uma cooperação para segurança e defesa na região ocidental africana, onde Cabo Verde pode vir a receber meios técnicos e financeiros dos EUA para a luta contra os tráficos ilícitos e o reforço da segurança no Atlântico Sul.
Esta informação foi avançada à Agência Lusa pela embaixadora de Cabo Verde em Washington, Fátima Veiga, depois da visita da Secretária de Estado Norte-americana ao arquipélago.
Fatima Veiga adiantou, ainda, que, a partir de agora, Cabo Verde vai trabalhar com as autoridades norte-americanas para ver como o país pode ser enquadrado nesta iniciativa e possa receber parte desses fundos, bem como beneficiar de apoio técnico e formação dos seus quadros.
Também da visita de Hillary Clinton ficou o entendimento de que a Secretária de Estado Norte-americana ajudará as autoridades cabo-verdianas a convencer os empresários norte-americanos a investir em Cabo Verde, nomeadamente no domínio das energias renováveis.
